
"Não fazia muito frio em Porto Alegre naquela noite de 23 de agosto de 1995. A temperatura rondava os dezessete graus ao fim da tarde, algo ameno e até mesmo quente para a época e a latitude da cidade. Era como se o tempo, esse inimigo histórico dos habitantes do paralelo 30, estivesse disposto a conceder uma cortesia para os visitantes da nossa Capital naquela noite. No Grêmio? Quem iria apostar numa equipe com jovens promessas (Danrlei, Arce, Roger, Arílson e Carlos Miguel) e um bando de veteranos ou rejeitados por grandes clubes (Paulo Nunes, Jardel, Dinho, Goiano, Rivarola e Adílson)? E mais: treinado por um cidadão com experiência quase que somente em times pequenos e cuja maior conquista eram duas copas do Brasil, torneio então desdenhado pelos grandes clubes brasileiros. O Grêmio campeão de 1983 era, para a maior parte dos clubes brasileiros (que já tinham visto o Tricolor cair para a segundona) uma lembrança longínqua e, para a maior parte dos nossos vizinhos, um clubezinho brasileiro que tinha ganho, mais no atrevimento e na garra do que por qualquer outra coisa, um título em cima do gigantesco Peñarol (esse, sim, um verdadeiro “copero”). Na semifinal, havia passado por um clube pequeno em nivel continental, enquanto que o adversário, o Nacional de Medellin, havia vencido o grande River Plate, onde metade do time titular jogava pela seleção argentina. As credenciais do Nacional eram, indiscutivelmente, muito maiores. Aconteceu que o Grêmio jogou não como se tivesse apenas um título, conquistado numa década passada, na base do abafa, quase que por acaso. O Grêmio não jogou como se tivesse um time formado por um monte de jovens e outro monte de renegados. O Grêmio jogou como se fosse a equipe mais vencedora do mundo. Jogou com a certeza da vitória que o Boca Juniors, em seus melhores tempos, costuma ter quando joga, seja contra o time da rua de trás ou com o Real Madrid. A autoridade com que o Grêmio entrou em campo contra o Nacional só seria superada na semana posterior, no jogo de volta, quando a calma, a tranquilidade, a certeza da vitória estavam estampadas na face de cada jogador, em cada passe, em cada lançamento, em cada cruzamento de Arce para a cabeça de Jardel, em cada carrinho de Dinho, em cada dividida de Rivarola, em cada arrancada de Roger em direção à linha de fundo. Aquela noite de 23 de agosto deu ao torcedor, a rigor, o título da Libertadores. Nada mais, nada menos. O 3 x 1 não era irreversível por causa do placar, que nem era tão dilatado. Era irreversível porque o Grêmio venceu da forma como venceu. Em 1983, vencemos pelo ímpeto tresloucado e demencial de um time de guris que enfrentava a melhor equipe do mundo com sangue nos olhos. Em 1995, vencemos pela força do conjunto, pela coesão, pela força física e mental. "
Há 15 anos, um clube gaúcho conquistava o bicampeonato da Libertadores da América pela primeira vez.
Saudades daquele tempo...
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